Quando se adota um processo formal de Engenharia de Software, é importante que os diversos artefatos (documentos, modelos) estejam consistentes entre si. Pois se esses artefatos existem, é para serem consultados, e se um ou mais deles estão defasados, eles perdem a utilidade como material de referência - se tornam "trabalho inútil", que alguém desperdiçou tempo escrevendo para no final ser jogado fora.
Por essa razão, se ao longo do projeto você determina que uma funcionalidade nova é interessante, mas você já está bem avançado no desenvolvimento, é tentador simplesmente implementá-la e deixar ela de fora de tudo o que foi feito lá atrás (especificação de requisitos, modelos de análise, etc). Ao fazer isso, não só você contribui para a inconsistência entre o que é descrito que o sistema faz e o que o sistema faz de fato, como também incorre no risco adicional de se estourar o prazo e o orçamento (pois os mesmos foram estimados com base no projeto, e essa estimativa precisa ser continuamente revista à medida que os requisitos mudam). Por fim, você pode estar sendo vítima de scope creep - caso em que se começa a agregar funcionalidades novas ao sistemas simplesmente "porque pode" ou "porque o cliente quer", sem que isso se justifique dada a missão do sistema.
Ok, mas isso significa então que cada documentozinho precisa ser atualizado sempre que algo mudar? Aí depende do seguinte: essa "lista de requisitos" é um documento permanente ou não? É algo que faz parte da linha de base do projeto, ou algo que você escreveu como brainstorm, para ser usada e jogada fora depois? Alguns processos mais burocráticos exigem (ou tentam exigir) que tudo seja meticulosamente documentado, que nada saia dos planos, e que a cada mudança todos os artefatos sejam atualizados para refleti-la, mesmo quando isso é inviável na prática e/ou esses documentos e modelos raramente ou nunca sejam consultados por ninguém. Outros já prevêem - ainda que de forma organizada - a obsolescência de certos artefatos, e preferem arquivá-los a mantê-los atualizados.
Cabe então a você determinar, caso a caso, o que faz sentido manter e o que faz sentido arquivar. Essa "lista de requisitos" ajuda a quem? Ao cliente? Só aos desenvolvedores? A outros atores no processo de desenvolvimento? E a relação de casos de uso, ajuda a quem? Cada empresa, cada equipe, pode fazer isso de forma diferente, com prós e contras que são alvo de muita discussão acalorada. O mais importante, seja numa equipe organizada ou mesmo numa desorganizada (i.e. que se propõe a seguir um processo, mas que sempre acaba se desviando dele) é diferenciar quais documentos estão consistentes com o sistema tal como está (ou tal como ficará) e quais estão obsoletos, para que outros não percam tempo e/ou tenham suas expectativas frustradas por estar consultando algo que não condiz com a realidade do projeto.