Respondendo à pergunta de porque o número de tentativas necessárias pra descriptografar é metade do número de possibilidades, suponha que você monta um baralho gigante, onde de um lado de cada carta está escrita uma possível chave de descriptografia, e do outro está escrito “sim” ou “não”, dependendo se a chave é a chave certa ou não.
Se você tem N cartas e você sabe que o adversário escolheu a chave de forma suficientemente aleatória, a carta vencedora vai estar com probabilidade igual em cada uma das N posições (i.e. 1/N). Se você numerar as cartas do topo pro fundo do baralho de 1 a N, o número de tentativas que você precisa fazer pra achar a chave certa é o número daquela carta: se a chave for a 17ª carta do baralho, você vai fazer 17 tentativas até achar a chave certa.
Só que a gente não sabe qual é a carta certa; a gente quer saber qual é o número médio de tentativas que a gente precisa fazer pra achar a carta certa. Com probabilidade 1/N esse número é 1 (quando a chave certa é a primeira carta do baralho); com probabilidade 1/N esse número é 2 (quando a chave certa é a segunda carta do baralho); …; com probabilidade 1/N esse número é N (quando a chave certa é a última carta do baralho).
Logo o número médio de tentativas que você precisa fazer é
1/N * 1 + 1/N * 2 + 1/N * 3 + … + 1/N * (N-1) + 1/N * N =
= 1/N (1 + 2 + 3 + … + (N-1) + N) =
= 1/N * N * (N+1) / 2 =
= (N+1) / 2
Pra esses algoritmos que a gente está falando, N é descomunal; esse +1 é um em conta de bilhão. Logo é uma aproximação muito boa afirmar que o número médio de tentativas é N/2.
Toda a discussão acima supõe que a senha é, de fato, aleatória, mas o fato é que na prática as coisas não funcionam assim — as pessoas escolhem datas de aniversário, números de telefone, … como senhas.
Pra ajudar a proteger os usuários nestes casos, é popular você usar uma key stretching function, como bcrypt, scrypt ou PBKDF2: essas funções são funções hash complicadas (como toda função hash) e caras (ao contrário de MD5 e SHA-*).
A ideia é que você gera uma string aleatória s
e usa f(s, x)
pra criptografar
o arquivo (onde x
é a senha que o usuário vai decorar); você guarda s
em aberto, junto com o arquivo criptografado. A ideia é que se você sabe e.g. que o usuário escolheu x
como um número de oito dígitos, se você criptografar o arquivo do jeito ingênuo, o seu adversário só precisa fazer, em média, 5 * 10^7 descriptografias pra abrir o seu arquivo.
Quando você tem uma key stretching function, você coloca o seu adversário contra a parede: calcular f(s, x)
é muito custoso; ele continua abrindo o seu arquivo após 5 * 10^7 tentativas, mas cada uma dessas tentativas é muito mais custosa (em geral esse custo é ajustável, mas pra aplicações “civis” em geral a galera ajusta pra f(s, x)
demorar um segundo pra ser calculado num computador moderno).
A outra opção é você ignorar a existência de f
e tentar achar a chave de criptografia diretamente, mas isso é inviável se você estiver usando um algoritmo com uma chave de 128 bits, por exemplo.
26! - 4 x 10^26
deveria ser26! = 4 x 10^26
, não?