Objeto vs. Entidade
Ao trabalharmos com JPA/Hibernate é importante ter em mente que um objeto qualquer, mesmo sendo instância de uma classe anotada com @Entity
ou mapeada num XML, não é automaticamente uma entidade JPA.
Isso significa que não importa se a PK está devidamente preenchida, um objeto não é uma entidade se não está gerenciado num contexto de persistência (persistent context).
Estados JPA
Vejamos um diagrama de estados simplificado do JPA (fonte):
Quanto criamos uma instância do objeto ele está no estado novo (new). Ao chamarmos o método persist
nosso objeto passa a ser uma entidade gerenciada (managed), embora o registro provavelmente não seja inserido no banco de dados até o commit
.
Após o encerramento do context do JPA (commit
da transação, close
do EntityManager
ou método detach
), nossa entidade entrará no estado detached. Posteriormente poderemos trazê-la novamente para o contexto de persistência do JPA com o método merge
.
Se excluirmos uma entidade com o método remove
ela entrará no estado removida (removed) e até o fim da transação um comando DELETE
será enviado ao banco de dados. Se quisermos persistir a entidade novamente, podemos chamar o método persist
.
Como funciona o merge
Agora que entendemos os estados das entidades, vejamos agora como funciona o método merge
. Eis um diagrama muito interessante (fonte):
- O primeiro passo do
merge
é verificar se a entidade está no estado gerenciado (managed), pois em caso afirmativo a própria entidade é retornada.
- Se a entidade foi removida (removed) um erro é lançado.
- Se o contexto de persistência já possui uma versão dessa entidade, ela será atualizada com o estado do objeto passado por parâmetro e então será retornada.
- Se não há uma entidade equivalente, verifica-se se esta é uma nova entidade:
- Se for, cria-se uma nova instância (equivalente ao
persist
).
- Se não for, carrega-se a entidade no contexto de persistência a partir do banco de dados.
Um erro comum ao usar merge
Note que o principal objetivo do método merge
é devolver uma entidade JPA gerenciada pelo contexto de persistência.
Se o objeto passado por parâmetro não for uma entidade JPA, o mesmo não será incluído no contexto de persistência, mas uma cópia será feita e retornada pelo método merge
.
Como descrito nesta famosa questão do SO, um erro comum é esperar que o objeto passado para o método torne-se uma entidade.
Incorreto
MyEntity e = new MyEntity();
em.merge(e);
e.setAtributo(novoValor);
No exemplo acima, alterar o valor do objeto original não afeta o estado da entidade JPA criada pelo merge
.
Correto
MyEntity e = new MyEntity();
MyEntity e2 = em.merge(e);
e2.setAtributo(novoValor);
Já neste exemplo, o valor será atualizado no banco de dados pois a entidade gerenciada retornada pelo merge
foi modificada.
Voltando ao problema da pergunta
Com toda a teoria em mente podemos concluir que o método merge
irá incluir uma nova entidade e, consequentemente, um novo registro no banco de dados, quando o objeto passado para o método for considerado uma nova entidade.
Em quais cenários isto é possível? Não posso prever todos, mas eis os mais comuns:
- A PK é um valor sequencial (
@GeneratedValue
) e não está devidamente preenchida, gerando assim uma nova entrada no banco de dados.
- Há uma coluna de versão (
@Version
) que não está devidamente preenchida no banco de dados (ver esta questão).
- Existe um relacionamento com outra entidade e, por alguma razão, o JPA está gerando uma query com
INNER JOIN
entre as duas tabelas e não encontra resultados devido à ausência de registros na outra tabela, chegando à conclusão de que a entidade principal não existe. Este artigo trata do assunto com relação a uma anotação do EclipseLink, mas isso pode ocorrer no Hibernate de algumas formas, por exemplo, via herança.
Uma alternativa
Outra forma de usar o merge
é recuperar a entidade gerenciada e alterá-la conforme necessário.
Exemplo:
MyEntity e = //entidade criada em algum outro lugar (JSF, Spring, etc.)
MyEntity e2 = em.find(MyEntity.class, idEntidade);
e.setAtributo(e.getAtributo);
Embora atualizar os atributos individualmente seja mais "trabalhoso" e faça o código ficar maior, isso evita que a "mágica" dos frameworks ou mesmo a manipulação indevida de atributos acabe gerando efeitos não esperados no banco de dados.