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Estou estudando TypeScript e cheguei na parte do tipo any. O que eu entendi é que o any é utilizado quando não se sabe o tipo do valor que a variável terá.

Mas se esse é o caso, as duas linhas de código abaixo não são a mesma coisa?

let var1: any = "Hello World"; 
let var2 = "Hello World"; // Código JS

Por que o any existe no TS? Há alguma diferença, ainda que mínima, entre usar o any e não declarar nenhum tipo para a variável?

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As duas linhas dão o mesmo resultado, mas não são a mesma coisa. Existe uma semântica explícita na primeira linha, que é mais legível e mostra que a intenção é justamente essa.

Se TypeScript é uma linguagem com tipagem estática em primeiro lugar, deixando ser dinâmica funcionar (tipagem gradual), o ideal é que esse dinamismo seja explícito. Se deixar implícito pode ser que o código veio de JavaScript que não tem tipo, ou o código foi feito de forma desleixada.

Existe opção que controla o comportamento da segunda linha de como será interpretado pelo compilador.

A segunda forma não existe para comunicar com JavaScript porque depois de compilado a primeira linha fica idêntica à segunda no alvo em JS. Na verdade todos os tipos são perdidos depois de compilado.

Se a dúvida for porque existe um tipo tão aberto, aí é para dar mais flexibilidade, porque tem problema que é mais fácil de descrever tendo um tipo dinâmico, e também porque esse problema pode ter que comunicar com JS que espera assim. Mas é algo colateral.

Existem diversos casos que a semântica do tipo é ser dinâmico, poder ter qualquer valor naquela variável, e tem mais ainda quando trabalha junto com códigos em JS em que todas as variáveis são any.

A segunda forma escrita em TS é preguiçosa. Até um tipo de união pode ser melhor que any quando você pode ter dois ou mais tipos específicos, mas não todos os tipos. Em uma linguagem de tipagem essencialmente estática explicite o tipo sempre, até quando ele pode ser qualquer um.

Veja mais: O que é estilo de tipagem?. E também em Diferença entre usar generics e "any" no TypeScript?.

Coloquei no GitHub para referência futura.

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Para entender a motivação do any, é preciso, antes, entender um dos princípios fundamentais do TypeScript, que é possibilitar a adoção gradual.

Por muito tempo, o ecossistema do JavaScript não teve nenhum meio eficiente de verificar, estaticamente, os scripts e “programas” que eram desenvolvidos com essa linguagem. Como a tipagem dinâmica do JavaScript, aliada aos diversos quirks da linguagem, eram (e ainda são) a fonte de muitos bugs, surgiu o TypeScript para garantir maior robustez ao desenvolvimento. Há quem diga, bem enfaticamente, que tipos estáticos ajudam bastante nesse caso – e, embora isso não venha ao caso, eu concordo.

Naturalmente, iriam surgir casos nos quais uma codebase, originalmente implementada em JavaScript, teria seus desenvolvedores optarem por migrá-la ao TypeScript. O poblema é que, a depender do tamanho da base de código, a tarefa é, não raro, difícil. Daí surge a necessidade de mecanismos para garantir uma adoção gradual do TypeScript mais flexível.

O any é um desses mecanismos. Ele é um meio de dar flexibilidade ao programador. O uso do any é como se o programador falasse, ao compilador, o seguinte:

Eu quero que você, compilador, não se preocupe com este valor. A ele atribuo este tipo coringa, any, que basicamente me permite fazer qualquer coisa com ele sem que você me encha a paciência.

É isso.

Pense no any como a união de todos os tipos do TypeScript. Um valor do tipo any aceita qualquer coisa e, por isso, não é nada seguro. Ao usar any, abre-se mão, por conveniência, de todas as seguranças que o TypeScript te dá.

E só para enfatizar um pouco mais a definição, voltemo-nos à documentação do TypeScript, que diz:

O TypeScript também tem um tipo especial, any, que você pode usar sempre que não quiser que um valor específico cause erros de type-check.

Quando um valor é do tipo any, você pode acessar qualquer uma de suas propriedades (que também serão do tipo any), chamá-lo como função, atribuí-lo a valores de qualquer tipo – em resumo: qualquer coisa que não seja sintaticamente ilegal.

Reiterando, veja que o uso de any abre mão das seguranças que o TypeScript oferece. Por isso, em versões mais recentes do TypeScript, surgiu o unknown, que faz algo parecido, porém com um pouco mais de segurança.

Ainda sobre o any, documentação diz mais:

Quando você não especifica, explicitamente, um tipo e o TypeScript não consegue inferi-lo pelo contexto, o compilador usará any como padrão. Assumindo que a opção noImplicitAny esteja desativada (que é o comportamento padrão, embora menos seguro).

Com isso, podemos aludir ao exemplo de código da pergunta:

let var1: any = "Hello World"; 
let var2 = "Hello World";

São coisas diferentes. No caso acima, var1 terá o tipo any. Já var2, devido à possibilidade de inferência do TypeScript, terá o tipo string. Portanto, é o mesmo que:

let var1: any = "Hello World"; 
let var2: string = "Hello World";

Esse é um dos casos em que o TypeScript consegue, seguramente, inferir o tipo da variável. E isso é óbvio para o compilador, tanto é que nenhum aviso é emitido ou any é assumido por padrão. Você está atribuindo à var2 uma string, que está no próprio código. Nesse tipo de caso, é claro ao TypeScript que aquela variável sempre será uma string (veja que a ela sempre será atribuída uma string literal). Portanto, diz-se que string é o tipo inferido.

Veja a diferença entre este trecho, no qual não há inferência possível e any é assumido; e este, com a opção noImplicitAny habilitada e há erro emitido.

Esse é um dos poderes do TypeScript, que tem relativamente boa habilidade de inferência. Conforme já vimos anteriormente, quando a inferência não é possível, por padrão, any será utilizado, mas existe uma opção que proíbe esse comportamento, exigindo do programador, nesse tipo de caso, explicitar o tipo. Trata-se de noImplicitAny.

Portanto, tem que tomar cuidado para saber quando o tipo é any e quando o tipo é inferido. Se você estiver utilizando um editor que suporte (como o VSCode), ao passar o mouse sobre um valor, poderá ver o tipo que ela assume. Aí fica fácil de saber.

Em resumo, o any é um coringa – mas tem que tomar cuidado para não confundir esse “coringa” com a inferência.

A inferência, quando aliada à opção noImplicitAny, é algo que garante segurança e robustez ao código. É uma conveniência do compilador para que você não tenha sempre, onde é óbvio pelo contexto, de explicitar o tipo manualmente.

O any é um escape-hatch que te permite abrir mão de certa segurança por flexibilidade. É uma conveniência que vale a pena em ocasiões como a migração gradual. Quando TypeScript está sendo utilizado desde o dia zero, raramente faz sentido, já que se abre mão de segurança.

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  • Então significa que, ao inferir que o tipo é string, eu não posso alterar o valor da variável para number, por exemplo. É isso? 30/08/2021 às 19:15
  • Sim, @JeanExtreme002. Uma vez que o tipo tenha sido inferido, uma mudança ao tipo não é permitida. Veja aqui. Inferência é algo bem poderoso, já que, ao mesmo tempo que traz certa segurança, permite que o programador não perca o tempo digitando tipos já seguramente informados pelo contexto. Não a toa linguagens mais modernas, como Rust, e linguagens originalmente sem inferência (como C#, por var) têm adotado esse recurso. 30/08/2021 às 19:23
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Simplesmente:

let var1: any = "Hello World";

var1 pode ser redefinido como qualquer outro objeto e typescript não vai brigar com você pq definiu isso ao usar any.

let var2 = "Hello World";

Nessa linha voce ja implicitamente declara var2 como um string e se tentar redefinir este valor para um numero (por exemplo) ja daria um erro. Em typescript, se voce não definir um tipo na declaração de um objeto, o typescript vai definir o tipo da quele objeto automaticamente.

Outros exemplos:

let foo = { cc: 'bar' }; // o tipo de foo seria: {cc: string}
foo = { cc: 'asdf', dd: 'sdfsd' }; // erro
foo = 'test'; // erro
foo = { cc: 22 }; // erro
foo = { cc: 'qualquer string' }; // certo
let foo2 = [22]; // o tipo de foo2 seria: string[]
foo2 = { cc: 22 }; // erro
foo2 = ['55', 66, 77]; // erro
foo2 = [55, 66, 77]; // certo

agora

let foo3: any = [22]; // o tipo de foo3 seria: any
foo3 = { cc: 22, tt: 'test' }; // certo
foo3 = 'test'; // certo
foo3 = [55, 66, 77]; // certo

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