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Gostaria de entender as diferenças entre union e struct. Percebi que ambos podem ser acessados da mesma forma:

u.membro
uPrt->membro

s.membro
sPrt->membro

Na prática já vi vários códigos utilizando unions dentro de structs. Qual a vantagem ao fazer isso? Há alguma melhoria na performance/memória?

Um exemplo de código qualquer (me corrijam se estiver errado):

struct pessoa {
 char[50] name;
 union {
  int idade;
  float peso;
 }
};

3 Respostas 3

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A grande vantagem esta na organização da memória, e no seu reaproveitamento.

As variáveis em uma struct são organizadas em endereços sequenciais, de forma que cada variável que compõe a struct fique lado a lado na memória.

O seu exemplo não é um bom exemplo para uma union, por isso, não vou utiliza-lo.

Imagine que temos um item de supermercado. Este item tem um nome, preço e dimensão. A dimensão pode ser tanto em volume (1 litro) como peso (1 Kg). Assim, poderíamos criar a seguinte struct:

struct item {
    char nome[50];
    float preco;
    float volume; // em litros.
    unsigned peso; // em gramas.
}

Nesta struct item, teríamos memória alocada do seguinte modo (estou supondo alinhamento de memória a byte, por simplicidade):

0-------------49-50-------53-54--------57-58-------61
      nome          preco       volume       peso

Note, porém, que no caso de leite, não compramos o leite por peso, e sim por volume. Logo, o campo struct item.peso não teria um valor válido para este item, mas sempre ocuparia memória.

O mesmo vale para o queijo: que é vendido em gramas, e não em litros.

Como reduzir então a memória utilizada? Podemos declarar dentro de uma union os campos volume e peso:

struct item {
    char nome[50];
    float preco;
    union {
        float volume;
        unsigned peso;
    }
}

Agora nosso layout de memória ficará:

0-------------49-50-------53-54-------------57
      nome          preco       volume/peso

Deste modo, quando acessarmos o campo struct item.volume, o compilador sabe que estamos tratando aquela região de memória como um float, e irá manipula-la corretamente. O mesmo vale para quando acessarmos struct item.peso, ele sabe que é um unsigned, e vai aplicar as regras do tipo unsigned.

Mas, e se fizermos:

struct item it;
it.peso = 2;
it.volume = 0.0f;
printf("%u", it.peso);

A saída não será 2, que é o valor que colocamos na variável peso, e sim o valor de binário de 0.0 em IEEE 754 interpretado como um unsigned. Coincidentemente, este valor também é 0, e portanto a saída será 0.

Porque?

Lembre-se que os campos volume e peso ocupam a mesma região de memória. Logo, as atribuições escreveram no mesmo endereço.

Então, se acessarmos o valor pelo campo "errado", podemos obter resultados absurdos para nosso domínio do problema. Então como saber qual campo devemos utiizar?

Podemos adicionar uma flag nos indicando isso:

struct item {
    char nome[50];
    float preco;
    bool porVolume;
    union {
        float volume;
        unsigned peso;
    }
}

E então se quisermos imprimir o conteúdo de um item, poderíamos utilizar:

if ( it.porVolume ) {
    printf("%s\t%.2f\t%.3f", it.nome, it.preco, it.volume);
} else {
    printf("%s\t%.2f\t%u", it.nome, it.preco, it.peso);
}

E este padrão se repete para quando formos acessar os campos da union.

Além de utilizarmos dentro de uma struct, podemos utilizar uma union como um tipo mesmo:

union pesoVolume {
    float volume;
    unsigned peso;
}

union pesoVolume pv;
pv.volume = 0.0f;

O funcionamento é idêntico, exceto que a union não estará mais dentro de uma struct.

Na linguagem C, os campos que compõem a union's podem ter tamanho diferentes, inclusive, e o compilador irá reservar memória idêntica ao tamanho da maior variável. Ou seja:

union u1 {
    float f1;    // 4.
    unsigned f2; // 4.
}
printf("%d", sizeof(union u1)); // 4.

union u2 {
    float f1;    // 4.
    long int f2; // 8.
    char f3[20]; // 20.
}
printf("%d", sizeof(union u2)); // 20.

Quando usar?

Hoje não faz mais muito sentido, acredito. Antigamente, memória era um recurso não abundante, e por isso justificava fazer estas economias. Hoje, o padrão de um PC é 4GB, e não é raro encontrar máquinas com 8GB ou mais.

Em alguns casos, no entanto, union facilita a passagem de parâmetros em uma API, podendo ser utilizada caso o programador identifique a vantagem. Isto ocorre em alguns comandos da Win32. Sinceramente não recomendo, pois pode ser que algumas linguagens não tenham suporte para este esta organização, causando problemas de interoperabilidade.

Por que não utilizei seu exemplo?

Proque provavelmente gostaríamos de manter tanto as informações da idade de uma pessoa, como do seu peso.

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  • Obrigado pela resposta. Achei bem detalhada e portanto dei um +1
    – jlHertel
    13/01/2015 às 13:04
  • Se a resposta tira suas dúvidas, você deve aceitá-la. 13/01/2015 às 13:19
  • Esperava ver mais respostas para ver se havia alguma mais completa. Aceitei a sua pois como mencionei antes respondeu a questão.
    – jlHertel
    13/01/2015 às 13:20
  • 1
    Excelente resposta, @ViníciusGobboA.deOliveira. Nem em livros vi uma explicação tão boa, parabéns! 25/04/2017 às 19:51
  • É muito útil e usado em sistemas embarcados. O controlador tem registradores de memória, e cada bit ou byte tem uma função específica. Para garantir o acesso individual a cada um dos espaços de maneira única, as bibliotecas fazem o mapeamento de bits e bytes em unions. 21/06/2022 às 12:45
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A diferença entre union e struct é que um struct é um "E" e armazena todos os campos enquanto um union é um "OU" e todos os campos ficam na mesma posição de memória. Se você atualizar um campo de um union todos os outros campos também serão atualizados ao mesmo tempo, para algum valor lixo.

O único caso em que você deve usar um union é quando você quiser economizar memória e tem certeza que apenas um campo é necessário de cada vez. Já para o fato de unions aparecerem dentro de structs, um problema dos unions em C é que não tem como saber qual campo está sendo usado e quais campos estão com valores "lixo". Por isso, é comum criar uma enum pra marcar isso. Por exemplo, essa struct representa tokens em uma linguagem de programação:

struct exp {
    enum {LIT,VAR} type;
    union {
        int lit;
        char *var;
    } value;
};

Um token pode ser ou um número ou um nome de variável. No campo type nós dizemos qual é o tipo do token e no campo value nós armazenamos o valor do token (um inteiro no caso de ser um token numérico e um ponteiro pra string caso o token seja um identificador). Usando a union, a struct exp tem uma representação mais compacta na memória. Só tem que tomar cuidado pra só acessar o campo lit depois de chacar que o campo type contém LIT e assim por diante.

1
  • 1
    Gostei do comparativo de E para structs e do comparativo de OU para unions.
    – jlHertel
    13/01/2015 às 13:03
3

O Vinícius Gobbo e o hugomg já apresentaram explicações sobre o que é e a diferença de um struct. No entanto, gostaria de acrescentar um exemplo de uso.

union Valor
{
    uint32_t dword;

    struct
    {
        uint16_t word0;
        uint16_t word1;
    };

    struct
    {
        uint8_t byte0;
        uint8_t byte1;
        uint8_t byte2;
        uint8_t byte3;
    };
};

Que pode ser representado da seguinte forma:

Representação da Memória

Na imagem, você pode observar que word0 e word1 estão em paralelo a dword, assim como os bytes.


Ainda nesse exemplo, é possível operações do tipo:

Valor foo;
foo.dword = 305;

printf("%d", foo.word0); // Mostra a primeira word de dword.
printf("%d", foo.word1); // Mostra a segunda word de dword.

printf("%d", foo.byte0); // Mostra o primeiro byte de dword.
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  • Bacana seu exemplo, mas o compilador vai ter dar alguma garantia que a memoria está alinhada corretamente não?
    – jlHertel
    13/01/2015 às 13:09
  • Kaminary, sim, tem que verificar isso sim. E também o tipo de ordenação, se é big endian ou little endian. Mas, nos que eu já utilizei isso é válido.
    – Lucas Lima
    13/01/2015 às 13:11
  • -1 por colocar um código perigoso e possivelmente undefined behavior.
    – jlHertel
    13/01/2015 às 13:15
  • @Kaminary: vérios compiladores implementam pragmas que permitem marcar uma struct como "packed", sem nenhum padding entre os campos. É claro, isso é uma extensão da linguagem - o padrão base só garante que os campos da struct aparecem em ordem.
    – hugomg
    13/01/2015 às 15:32
  • @hugomg Neste caso posso assumir que o código do Lucas Nunes vai funcionar em qualquer compilar padrão ISO que não tenha esta extensão?
    – jlHertel
    14/01/2015 às 13:13

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