Essa resposta começou a ser redigida antes da resposta do Virgilio Novic.
Minha abordagem tem uma visão diferente, com uma construção de conhecimento que considero válida compartilhar, mas o código obtido
continua sendo mais ou menos o do Virgilio Norvig.
Esse é um problema recursivo (conforme indicado por Piovezam e Augusto Vasques nos comentários). Posso reduzi-lo a uma busca em um grafo direcionado acíclico.
Nesse grafo, tenho 3 tipos de nós:
- nó de objeto (a entrada, não interessa para o resultado final)
- nós de classe (não interessa para o resultado final)
- nós de interface (interessa para o resultado final)
A questão, então, se torna em como, a partir do nó de objeto, quais nós de interface eu consigo alcançar. Uma coisa interessante na estrutura desse grafo é a seguinte:
- o grafo é finito, sempre
- o nó de entrada tem apenas uma aresta, que vai para um nó de classe (identificado por
getClass()
)
- o nó de classe pode apontar para outro nó de classe (identificado por
getSuperclass()
), e também pode apontar para diversos nós de interface (identificado por getInterfaces()
)
- o nó de interface pode apontar para diversos nós de interface (identificado por
getInterfaces()
)
Como é acíclico e finito, eu posso navegá-lo em profundidade sem problemas. Uma ideia bem por cima do como eu percorro esse grafo é a seguinte:
def percorre_grafo(nodo):
se nodo é objeto:
percorre_grafo(nodo.getClass())
se nodo é de classe:
para iface em nogo.getInterfaces():
percorre_grafo(iface)
se nodo.getSuperclass() != null:
percorre_grafo(nodo.getSuperclass)
se nodo é interface:
# faz algo com o nodo em questão
para iface em nogo.getInterfaces():
percorre_grafo(iface)
Porém, posso deixar blocos de códigos com preocupações menores. Por exemplo, um bloco
para ser o front, recebendo o objeto em questão, outro para percorrer as classes/superclasses desse objeto
e finalmente um último bloco que percorre recursivamente as interfaces:
def percorre_grafo__front(nodo):
# garanto aqui que nodo é do tipo "objeto"
# só tem uma aresta que aponta para um nó do tipo "classe"
percorre_grafo__classe(nodo.getClass())
def percorre_grafo__classe(nodo):
# garanto aqui que nodo é do tipo "classe"
# pode ter uma aresta que aponta para um nó do tipo "classe"
# podem ter diversas arestas que apontam para nós do tipo "interface"
se nodo.getSuperclass() != null:
percorre_grafo__classe(nodo.getSuperclass())
percorre_grafo__interface(iface) para iface em nodo.getInterfaces()
def percorre_grafo__interface(nodo):
# garanto aqui que nodo é do tipo "interface"
# podem ter diversas arestas que apontam para nós do tipo "interface"
# faz algo com o nodo em questão
percorre_grafo__interface(iface) para iface em nodo.getInterfaces()
Eu ainda posso remover a recursão da função percorre_grafo__classe
, porque ela é uma função recursiva
trivial. Fica assim o desenrolar iterativo dela:
def percorre_grafo__classe(nodo):
# garanto aqui que nodo é do tipo "classe"
# pode ter uma aresta que aponta para um nó do tipo "classe"
# podem ter diversas arestas que apontam para nós do tipo "interface"
iter = nodo
enquanto iter != null:
percorre_grafo__interface(iface) para iface em iter.getInterfaces()
iter = iter.getSuperclass()
Nessa estratégia eu passo por todos os nós alcançáveis a partir do objeto em questão, inclusive repetindo a mesma interface diversas vezes.
Se eu admitir que a parte da recursão é alcançar os nós, então posso passar para o passo recursivo a "resposta" sendo construída,
numa estratégia semelhante a que usei nesta resposta para descobrir
a diferença entre o maior e o menor elemento de uma lista de maneira recursiva. O fazer algo com o nodo em questão é
adicionar no conjunto. Se o nodo já estava previamente no conjunto, significa que eu já tinha passado por ele, então não
é necessário fazer a chamada recursiva.
Assumindo isso como a estratégia, e levando em consideração a função percorre_grafo__classe
como sendo o ponto de entrada
que prepara a função para a chamada recursiva, temos então o seguinte algoritmo:
def percorre_grafo__front(nodo):
# garanto aqui que nodo é do tipo "objeto"
# só tem uma aresta que aponta para um nó do tipo "classe"
percorre_grafo__classe(nodo.getClass())
def percorre_grafo__classe(nodo):
# garanto aqui que nodo é do tipo "classe"
# pode ter uma aresta que aponta para um nó do tipo "classe"
# podem ter diversas arestas que apontam para nós do tipo "interface"
conjunto_interfaces = new Set()
iter = nodo
enquanto iter != null:
percorre_grafo__interface(iface, conjunto_interfaces) para iface em iter.getInterfaces()
iter = iter.getSuperclass()
def percorre_grafo__interface(nodo, conjunto_interfaces):
# garanto aqui que nodo é do tipo "interface"
# podem ter diversas arestas que apontam para nós do tipo "interface"
se conjunto_interfaces não contém nodo:
conjunto_interfaces.add(nodo)
percorre_grafo__interface(iface) para iface em nodo.getInterfaces()
E em Java, como seria isso?
HashSet<Class<?>> percorre_grafo__front(Object nodo) {
// garanto aqui que nodo é do tipo "objeto"
// só tem uma aresta que aponta para um nó do tipo "classe"
return percorre_grafo__classe(nodo.getClass());
}
HashSet<Class<?>> percorre_grafo__classe(Class<?> nodo) {
// garanto aqui que nodo é do tipo "classe"
// pode ter uma aresta que aponta para um nó do tipo "classe"
// podem ter diversas arestas que apontam para nós do tipo "interface"
HashSet<Class<?>> conjunto_interfaces = new HashSet<>();
Class<?> iter = nodo;
while (iter != null) {
Stream.of(iter.getInterfaces()).forEach(iface -> percorre_grafo__interface(iface, conjunto_interfaces));
iter = iter.getSuperclass();
}
return conjunto_interfaces;
}
void percorre_grafo__interface(Class<?> nodo, HashSet<Class<?>> conjunto_interfaces) {
// garanto aqui que nodo é do tipo "interface"
// podem ter diversas arestas que apontam para nós do tipo "interface"
if (conjunto_interfaces.add(nodo)) {
Stream.of(nodo.getInterfaces()).forEach(iface -> percorre_grafo__interface(iface, conjunto_interfaces));
}
}
Usando uma padronização de nomes/código um pouco mais Java:
public HashSet<Class<?>> percorreGrafo(Object obj) {
// garanto aqui que nodo é do tipo "objeto"
// só tem uma aresta que aponta para um nó do tipo "classe"
return percorreGrafo__classe(obj.getClass());
}
private HashSet<Class<?>> percorreGrafo__classe(Class<?> clazz) {
// garanto aqui que nodo é do tipo "classe"
// pode ter uma aresta que aponta para um nó do tipo "classe"
// podem ter diversas arestas que apontam para nós do tipo "interface"
HashSet<Class<?>> interfaces = new HashSet<>();
for (Class<?> iter = clazz; iter != null; iter = iter.getSuperclass()) {
Stream.of(iter.getInterfaces()).forEach(iface -> percorreGrafo__interface(iface, interfaces));
}
return interfaces;
}
private void percorreGrafo__interface(Class<?> clazz, HashSet<Class<?>> interfaces) {
// garanto aqui que nodo é do tipo "interface"
// podem ter diversas arestas que apontam para nós do tipo "interface"
if (interfaces.add(clazz)) {
Stream.of(clazz.getInterfaces()).forEach(iface -> percorreGrafo__interface(iface, interfaces));
}
}
Removendo Stream
:
public HashSet<Class<?>> percorreGrafo(Object obj) {
// garanto aqui que nodo é do tipo "objeto"
// só tem uma aresta que aponta para um nó do tipo "classe"
return percorreGrafo__classe(obj.getClass());
}
private HashSet<Class<?>> percorreGrafo__classe(Class<?> clazz) {
// garanto aqui que nodo é do tipo "classe"
// pode ter uma aresta que aponta para um nó do tipo "classe"
// podem ter diversas arestas que apontam para nós do tipo "interface"
HashSet<Class<?>> interfaces = new HashSet<>();
for (Class<?> iter = clazz; iter != null; iter = iter.getSuperclass()) {
for (Class<?> iface: iter.getInterfaces()) {
percorreGrafo__interface(iface, interfaces);
}
}
return interfaces;
}
private void percorreGrafo__interface(Class<?> clazz, HashSet<Class<?>> interfaces) {
// garanto aqui que nodo é do tipo "interface"
// podem ter diversas arestas que apontam para nós do tipo "interface"
if (interfaces.add(clazz)) {
for (Class<?> iface: clazz.getInterfaces()) {
percorreGrafo__interface(iface, interfaces);
}
}
}
Note que o método Set.add(E e)
retorna verdadeiro caso não tenha ainda o elemento e
, e
ainda por cima o adicionano conjunto. Caso e
já exista, retorna falso. Logo, adicionar
um nó no conjunto de interfaces visitadas já está fazendo ao mesmo tempo a verificação
de que o elemento está no conjunto. Então, se interfaces.add(clazz)
retornar true
, isso
significa que clazz
ainda não estava no conjunto e que foi adicionado.
Como posso ter tanta certeza da construção desses grafos? Ora, lendo a documentação.
Em primeiro lugar, a linguagem não faz herança múltipla (gramática descrita na JLS 8.1.4). Logo, se eu estiver herdando de alguma classe (ps: sempre está), não posso herdar de nenhuma outra. Logo, só posse ter, no máximo, uma superclasse.
Está documentado em Java que toda classe herda de Object
, direta ou indiretamente (JLS 4.3.2). E também está documentado que Object.class.getSuperclass()
retorna null
(JavaDoc).
Também tem na especificação da linguagem Java que uma interface não pode se implementar ciclicamente (JLS 12.2.1). Logo, é impossível sair de uma interface e, através de getInterfaces()
, chegar nela de novo. Eu sempre chegarei em uma interface que não estende nenhuma outra, uma interface que é fim de linha.
Note que o código do Virgilio Novic faz a mesma coisa que o desta resposta, porém em um método só, e retorna o conjunto adequado de interfaces (apesar de por ventura passar por uma dessas interfaces mais de uma vez).
Object
e pegando as interfaces implementadas por cada uma?