Numa abordagem que me lembra um pouco mais a funcional e a lógica, podemos pensar em cabeças de lista e corpo de lista. As antigas funções CAR
e CDR
do lisp me veem a cabeça.
A função básica do produto cartesiano é descrita mais ou menos assim usando CAR
e CDR
(sobre listas de números):
produto_cartesiano(list1, list2):
se list1 é lista vazia ou list2 é lista vazia:
retorne {}
senão se list1 não é lista:
retorne { (list1, CAR(list2)) U produto_cartesiano(list1, CDR(list2)) }
senão:
retorne { produto_cartesiano(CAR(list1), list2) U produto_cartesiano(CDR(list1), list2) }
Em Python? Sem usar laços? Ainda não consigo pensar numa maneira direta. Mas podemos ter uma abordagem um tanto quanto mais prolog. Eu sei que o paradigma lógico não é exatamente o desejado, mas dá uma disfarçada. Ajuda a evitar os laços. Aqui, a questão é passar como argumento a lista de retorno. No paradigma lógico você não construiria a lista, você inferiria a lista, é uma questão bem diferente. Aqui, realmente inseriremos os resultados na lista de retorno. Então, podemos fazer o produto cartesiano assim:
def produto_cartesiano(lista1, lista2, resultado = []):
if lista1 == [] or lista2 == []:
return resultado
elif !isinstance(lista1, list):
resultado.append((lista1, lista2[0]))
return produto_cartesiano(lista1, lista2[1:], resultado)
else:
produto_cartesiano(lista1[0], lista2, resultado)
return produto_cartesiano(lista1[1:], lista2, resultado)
Note que estou usando CAR
e CDR
de jeito mais idiomático no Python, com lista[0]
e lista[1:]
.
Só relembrando aqui, essa resposta se aplica a listas de números. Não se aplica a conjuntos generalizados, incluindo conjuntos que podem ter outros conjuntos como seus elementos.
No sua resposta, você andou ao mesmo tempo nas duas listas na chamada recursiva, mais ou menos assim:
cartesiano(l1, l2):
se l1 é lista vazia e l2 é lista vazia
return {}
return { (CAR(l1), CAR(l2)) U cartesiano(CDR(l1), CDR(l2)) }
Isso elimina muitos elementos do resultado. Seja L1 X L2
o produto cartesiano, você está eliminando os subconjuntos CDR(L1) X CAR(L2)
e CAR(L1) X CDR(L2)
, e também alguns outros subconjuntos devidos à recursão. Sua condição de parada também está estranha, pois a definição de produto cartesiano diz que, se um dos conjuntos for o conjunto vazio, o resultado também será vazio. Isso significa que deveria ser um OR, não um AND.
A grosso modo, um produto cartesiano seria composto dos seguintes subconjuntos:
L1 X L2 =
({CAR(L1)} X {CAR(L2)}) U
({CAR(L1)} X CDR(L2)) U
(CDR(L1) X {CAR(L2)}) U
(CDR(L1) X CDR(L2))
Se notar bem, ({CAR(L1)} X {CAR(L2)}) U ({CAR(L1)} X CDR(L2)) = {CAR(L1)} X L2
; e semelhantemente para (CDR(L1) X {CAR(L2)}) U (CDR(L1) X CDR(L2)) = CDR(L1) X L2
Portanto, temos que:
L1 X L2 =
({CAR(L1)} X {CAR(L2)}) U
({CAR(L1)} X CDR(L2)) U
(CDR(L1) X {CAR(L2)}) U
(CDR(L1) X CDR(L2)) =
({CAR(L1)} X L2) U
(CDR(L1) X L2)
Notou a semelhança com a minha recursão?
Agora, e para conjuntos generalizados? Conjuntos generalizados contém conjuntos dentro de conjuntos.
Pegando a fórmula completa:
L1 X L2 =
({CAR(L1)} X {CAR(L2)}) U
({CAR(L1)} X CDR(L2)) U
(CDR(L1) X {CAR(L2)}) U
(CDR(L1) X CDR(L2))
O caso conhecido da recursão é com os conjuntos vazios. Mas, também posso afirmar que, como CAR(L)
retorna um elemento pertencente a L
, temos que {CAR(L1)} X {CAR(L2)}
é igual ao conjunto unitário {[CAR(L1), CAR(L2)]}
cujo elemento é a tupla formada pelos primeiros elementos de L1
e L2
.
Sendo assim, a fórmula recursiva para ambos os conjuntos não vazios:
L1 X L2 =
{[CAR(L1), CAR(L2)]} U
({CAR(L1)} X CDR(L2)) U
(CDR(L1) X {CAR(L2)}) U
(CDR(L1) X CDR(L2))
Portanto, a função recursiva seria:
def produto_cartesiano(l1, l2, resultado = []):
if l1 == [] or l2 == []:
return resultado
else:
car1 = l1[0]
cdr1 = l1[1:]
car2 = l2[0]
cdr2 = l2[1:]
resultado.append( (car1, car2) )
produto_cartesiano([ car1 ], cdr2, resultado)
produto_cartesiano(cdr1, [ car2 ], resultado)
return produto_cartesiano(cdr1, cdr2, resultado)