Em programação funcional, é muito comum o uso de funções recursivas. Certas linguagens, como Scheme, sequer possuem estruturas de controle para loops, dependendo de recursão para iterar sobre listas.
JavaScript possui características funcionais, como funções de primeira classe, mas apresenta restrições quanto ao uso da recursão. Por exemplo:
function fatorial(num) {
if (num === 0) {
return 1;
}
return num * fatorial(num - 1);
}
fatorial(5); // 120
fatorial(100000); // RangeError: Maximum call stack size exceeded
Favor ignorar o fato de que fatorial(100000)
é um número que JavaScript sequer é capaz de representar.
Se a quantidade de recursões ultrapassar um certo limite, o engine não é capaz de processar o resultado, lançando um erro ou travando o programa. Isso ocorre porque o tamanho da pilha de chamada (que armazena o contexto de execução de cada invocação da função – o que inclui variáveis locais e a referência ao escopo "pai" da função, base do mecanismo das closures) tem um tamanho fixo. E esse limite existe para garantir que a pilha de chamada não consuma memória em excesso.
Há porém uma técnica para se evitar essa limitação, dependendo de como o código da função estiver estruturado. Se a chamada recursiva estiver em posição "de cauda", ou seja, for a última instrução da função, seu contexto de execução é dispensável, pois é garantido que a função não precisará mais dele quando as chamadas recursivas forem desempilhadas. Assim, é possível limpar ou "reciclar" o quadro (frame) da pilha utilizado pelo contexto de execução da função que está em execução, e utilizá-lo para a chamada recursiva, de modo que uma função recursiva em cauda acaba utilizando um único quadro de pilha para toda a operação. Essa técnica é conhecida como otimização de chamada em cauda (tail call optimization).
Pergunta
Apesar dessa técnica ser amplamente conhecida, nenhum engine de JavaScript parece utilizá-la, seja no interpretador em si, seja como parte das operações efetuadas pelos compiladores JIT que todos os engines modernos utilizam. A pergunta é, por quê? Existe alguma restrição na linguagem que torna essa otimização impossível? Ou talvez ela seja possível, mas custosa demais?
A gramática da próxima versão da linguagem (ECMAScript 6, ainda em rascunho) inclui verificações para a posição de cauda, prevendo esse tipo de otimização. Porém, não me parece que a falta disso na versão atual impediria que a técnica fosse utilizada já hoje.