O tipo char
em C, e consequentemente em C++, não tem lá um bom nome. Na verdade acho que ele deveria chamar byte
, porque é isso que ele é. Ele ser usado como um caractere é só um detalhe.
Ao contrário da crença popular, C é uma linguagem de tipagem fraca. Ela é estaticamente tipada, mas fraca. As pessoas não entendem muito bem esse termos. C pode interpretar o mesmo dado como se fosse de um tipo ou forma diferente da originalmente intendida. Isso pode ser observado nesse código:
char a = 'a';
printf("%c\n", a);
printf("%d\n", a);
Veja funcionando no ideone. E no repl.it. Também coloquei no GitHub para referência futura.
O mesmo dado pode ser apresentado como número ou caractere.
Algumas funções do C permitem fazer essa interpretação como um caractere, em geral você precisa dizer que deve ser assim. Por isso existe o %c
. Ele indica que o dado deve ser tratado como um caractere. No geral um char
é tratado como número mesmo.
Qualquer codificação de caracteres que podem ser armazenadas em 1 byte pode ser armazenada em um char
. Quando C foi criada só existia o ASCII mesmo (pelo menos de forma relevante).
Foram surgindo outras codificações mais completas que usam o byte todo para representar mais caracteres. Foi ficando complicado, criaram páginas de charset. Para "simplificar" e habilitar mais caracteres criaram o caractere multi-byte. Nesse momento não foi mais possível usar char
como o tipo para armazenar o caractere, já que foi garantido que ele só deveria ter 1 byte.
Na impede você usar uma sequência de char
s para dizer que é apenas um caractere, mas será uma solução sua, que suas funções sabem o que fazer. A biblioteca do C, de terceiros, inclusive dos sistemas operacionais não sabem como lidar com isso. Então ninguém faz. Muita gente não entende que C é uma linguagem para trabalhar com as coisas de forma bruta, você pode fazer o que quiser do jeito que quiser. Sair do padrão é um problema seu.
Quando precisamos do caractere multi-byte costumamos usar o tipo wchar_t
. Ele pode ter um tamanho variável de acordo com a implementação. A especificação deixa livre. Em alguns casos usamos o char16_ t
e o char32_ t
que tem seus tamanhos garantidos por especificação. Isto é padronizado.
Vamos executar esse código para entender melhor:
char a = 'a';
char b = 'ã';
wchar_t c = 'a';
wchar_t d = 'ã';
cout << sizeof(char) << "\n";
cout << sizeof(a) << "\n";
cout << sizeof('a') << "\n";
cout << sizeof(b) << "\n";
cout << sizeof(c) << "\n";
cout << sizeof(d) << "\n";
cout << sizeof('ã') << "\n";
Veja funcionando no ideone. E no repl.it. Também coloquei no GitHub para referência futura.
Percebeu que o acento não faz ocupar mais bytes? Declarei b
como char
ele ele tem apenas um byte, mesmo tendo acento? E que c
tem 4 bytes mesmo tem um caractere que cabe no ASCII? O tamanho é determinado pelo tipo do dado, ou da variável. Onde eu disse explicitamente que é char
ele usou 1 byte. Onde ele pode inferir que um char
é suficiente ele usou 1 byte, onde eu disse explicitamente que é um wchar_ t
, ocupou 4 bytes. Onde ele inferiu que precisava de mais de um byte para representar o caractere ele adotou 4 bytes. Então o seu sizeof('ã')
deu 4 bytes porque houve inferência que ele seria do tipo wchar_ t
.
Ficou claro que nesse compilador o wchar_t
tem 4 bytes.
Toda biblioteca do C e do C++ entende o wchar_ t
como um tipo para armazenar caracteres e não números, ainda que sempre o que tem lá sejam números, computadores não sabem o que são caracteres, ele só usa um truque para mostrar isso pra gente que quer ver isso.
Novamente em C você faz como deseja. Se quer fazer que todos caracteres tenham um byte dá para fazer, mesmo que eles possuam acento. Claro que existem apenas 256 valores possível em um byte. Não dá para ter todos caracteres possíveis nessa situação.