Pense num CDN como mais um tipo de cache que visa diminuir o tempo que o usuário espera por algum recurso, geralmente imagens, estilos, fontes e scripts, mas não se limitando a estes.
Em geral, os recursos que ficam num CDN (ou qualquer outro cache) devem ser estáticos, ou seja, não mudam, pelo menos por um período de tempo.
Um site ou sistema web pode ter vários níveis de cache. Vamos ver alguns:
Servindo conteúdo estático
Suponha que você tem um blog em Wordpress ou algum sistema que gera páginas dinamicamente de acordo com a URL e parâmetros. Suponha que devido ao conteúdo ser grande, seu blog está demorando 10 segundos para carregar uma página.
A primeira coisa que você pode fazer é evitar que seja necessário gerar a página novamente a cada requisição. O esforço para fazer isso depende do tipo de conteúdo.
Se partes do site, tal como propagandas, variam a cada requisição, você pode isolar isso carregando este conteúdo de forma assíncrona ou colocando-o num iframe
. O restante da página pode ser armazenado em memória ou em arquivos no disco.
Uma estratégia simples para se fazer isso é usar um proxy como o Varnish. Basicamente ele fica entre o usuário e o servidor. Na primeira requisição a um recurso, ele pede ao servidor para gerar aquela página, como se fosse um acesso normal. Ele, então, salva o conteúdo recebido do servidor e devolve ao cliente. Nas demais requisições ao mesmo recurso, ele simplesmente devolve o que foi salvo antes.
Este mecanismo permite aumentar em várias ordens de magnitude a carga que um servidor suporta. Ele ataca principalmente o tempo de processamento do servidor, que neste caso iria incluir a execução de centenas de scripts PHP e dezenas de acessos ao banco de dados.
Evitando acessos frequentes ao banco de dados
Continuando no exemplo do blog, o problema é que no primeiro acesso a uma página, o usuário ainda leva 10 segundos para ver o resultado.
Uma das causas comuns para a demora da geração de uma página num sistema web é que ele sempre precisa carregar toda a informação do banco de dados novamente.
A primeira recomendação para resolver isto é evitar ler a mesma informação mais de uma vez do banco. Um efeito colateral da modularização dos sistemas é que muitas vezes classes ou scripts diferentes solicitam a mesma informação várias vezes e isso vai até o banco de dados.
A forma de resolver isso é criar um tipo de cache de requisição, onde informações já lidas são reusadas até o fim da requisição.
A segunda coisa que se pode fazer é estender o cache de requisição para ser reusado entre requisições no caso de informações que mudam pouco. Por exemplo, num sistema que lida com galerias de imagens, as categorias tendem a não mudar com tanta frequência, então você pode colocar a lista de categorias num cache e invalidar o cache somente quando o usuário ou administrador fizer mudanças.
O cache de itens do banco de dados é geralmente feito em memória e, dependendo da escala de distribuição, pode usar um cache distribuído.
Esta abordagem diminui o tempo de processamento do servidor para gerar uma saída.
Evitando requisições desnecessárias
Nas duas abordagens anteriores, tentamos diminuir ao máximo o tempo de resposta do servidor, na primeira requisição e também nas requisições subsequentes.
Entretanto, a latência até os servidor pode ser um grande problema se ainda houverem muitos recursos carregadas numa página.
Empacotando recursos de forma eficiente
Se você tem muitos scripts e estilos, considere minificá-los e agrupá-los em arquivos maiores. Imagens pequenas também podem ser agrupadas numa imagem maior em sprites exibidos com estilos CSS específicos.
A maioria dos navegadores limita os downloads concorrentes a não mais do que meia dúzia, portanto de você tiver, por exemplo suns 15 scripts, 10 estilos e mais 30 imagens, tudo isso vai ser enfileirado e baixado em cascata.
Porém, se você juntar cada tipo de recurso em arquivos arquivos maiores, isso vai diminuir o tempo total de download.
Note que com HTTP/2 isso não será tanto verdade, porque ele vai suportar transporte multiplexado de vários recursos em uma só conexão, além de compactar os cabeçalhos, diminuindo o overhead. Portanto, verifique se o seu servidor tem suporte a HTTP/2 antes de criar batches de recursos.
Fazendo bom uso do cache do navegador
Outro problema que geralmente é ignorado é quando não se faz bom uso do cache do browser. Páginas e recursos que não mudam devem ser configurados para serem cacheados por bastante tempo.
Imagine que usamos a versão 1.7.1. do jQuery no blog. Podemos configurar o cache dele para durar "eternamente", isto é, nunca expirar. Se quisermos mudar a versão do jQuery, basta servir a biblioteca com outra URL na página, por exemplo:
/js/vendor/jquery-1.7.2.js
Portanto, se os recursos tiverem a versão incluída na URL e o cache estiver configurado corretamente, o usuário só vai precisar carregar os arquivos novamente quando eles efetivamente mudarem.
O mesmo pode ser feito com imagens se você configurar a URL das imagens com algum padrão baseado, talvez, na data de upload ou alteração das mesmas.
Enfim, é importante pensar em cada recurso que a sua página baixa no navegador e definir uma política de cache. Quanto mais você conseguir tornar estático e fazer cache "infinito", melhor.
Usando cache de terceiros
Se a sua página usa bibliotecas comuns como o jQuery, você pode considerar servi-las usando um CDN externo gratuito.
O Google, por exemplo, hospeda várias bibliotecas comuns e ao usá-las você aproveita os arquivos já em cache se o usuário acessou algum site que usa as mesmas bibliotecas e as mesmas versões.
Além disso, o navegador verifica que esses arquivos estão em outro domínio e pode aumentar o número de conexões simultâneas para download.
De quebra, você economiza banda e processamento no seu servidor.
Eu sei que você mencionou que não queria usar CDNs gratuitos, mas neste caso não é o mesmo que usar um CDN qualquer. Dificilmente você vai conseguir um uptime maior do que um CDN como esse do Google, por exemplo.
Chegando mais próximo do usuário
Supondo que aplicamos todos os passos acima, o blog deve estar rápido como uma bala. (Eu sei, porque fiz tudo isso no meu).
Entretanto, usuários que fazem a primeira requisição do outro lado do mundo ainda tem algumas dificuldades para carregar as páginas mais pesadas ou, neste caso, pode ser que algumas imagens grandes demoram para serem baixadas.
Além disso, às vezes o usuário pressiona F5 e o browser decide fazer uma requisição HTTP HEAD
para verificar se os recursos mudaram e o carregamento da página fica lento porque até isso demora.
Bem, é aqui que você precisa começar a pensar em geolocalização, isto é, em colocar um servidor mais perto do seu cliente.
Distribuindo seu sistema
Uma abordagem para diminuir a latência de forma geral, não só de recursos estáticos, é simplesmente colocar uma cópia do sistema perto do cliente.
O problema dessa abordagem é que nem sempre é fácil dividir o banco de dados, principalmente se o conteúdo é compartilhado entre todos os usuários, como numa rede social.
No caso de um blog, você poderia simplesmente criar nós em diferentes locais e sincronizar o conteúdo nos nós slave baseando-se num nó mestre, por exemplo.
No entanto, esta abordagem geralmente requer mudanças na arquitetura do sistema de forma geral.
Usando CDNs
Finalmente chegamos ao ponto.
Se você concluir de que boa parte do tempo de carregamento da página se dá no download de recursos estáticos (ou que poderiam ser estáticos, ou que podem ser versionados variando a URL), então uma boa estratégia seria distribuir esses recursos para perto do usuário, usando servidores em diferentes localidades, enquanto o sistema principal ainda poderia estar centralizado.
Imaginemos que o blog tem mais acessos no Brasil e no Japão, sendo o sistema hospedado no Brasil.
Se pensarmos num CDN como uma simples rede de distribuição de conteúdo, podemos então conceber um cache no Japão para armazenar as imagens para que os usuários de olhos puxados experimentem a mesma velocidade de download que os mamelucos daqui.
Vamos dividir a estrutura de nosso CDN em infraestrutura de rede e um servidor HTTP simples.
Uma infraestrutura de rede poderia usar uma implementação da metodologia Anycast. Basicamente, esta tecnologia permite rotear uma requisição para o nó mais perto da rede. Assim, poderíamos servir apenas uma URL para cada imagem e o servidor que receberia a requisição depende da localização do cliente.
Já no servidor HTTP simples, precisamos apenas de um Apache e uma cópia das imagens que serão servidas. Nenhum mistério.
O problema está em como colocar as imagens nos dois servidores HTTP que ficam no Brasil e no Japão.
A forma lazy de fazer isto é colocar um script no servidor Apache que verifica se a imagem existe localmente naquele nó. Caso exista, basta servir a imagem. Se não existir, faz uma requisição ao sistema e salva localmente.
O problema desta abordagem é que regredimos o desempenho parcialmente:
a primeira requisição ainda vai demorar muito. A vantagem é que a imagem que um usuário acessa fica no cache daquela região para todos os demais usuários acessarem. Isso pode ser vantajoso no caso de um blog, mas se cada usuário tende a acessar imagens diferentes, o ganho será mínimo.
A alternativa é ser agressivo e, cada vez que um usuário fizer o upload de uma imagem, você distribui o conteúdo na sua rede distribuidora de conteúdos. O resultado é que temos a melhor experiência para os usuários de cada região, quando eles tentam visualizar as imagens.
Em contrapartida, você cria uma dificuldade para quem envia as imagens. Agora a requisição precisa esperar a sincronização entre os servidores e os criadores de conteúdo é quem vão sofrer.
Você pode pensar em fazer isto de forma assíncrona, mas isso também significa que alguém acessando uma página no momento de um upload pode ver um link quebrado porque a imagem ainda não foi parar no CDN mais próximo dela.
E o problema só aumentaria ao escalar sua rede de conteúdos para mais localidades.
Uma terceira alternativa seria implementar as duas primeiras, isto é, fazer o cache de forma agressiva, mas sincronizar individualmente a imagem caso dela não encontrar o nó que recebeu a requisição.
CDN caseiro?
Por tudo isso, eu realmente quero desencorajar você a criar, sua própria solução de CDN.
Se você tiver pouco tráfego, CDN provavelmente não vale a pena. Se você tiver muito tráfego, pagar um bom CDN será uma das menores preocupações.
Pense no tempo desperdiçado em configurar toda essa infraestrutura e ainda no tempo gasto para lidar com problemas de sincronização durante o upload.
Considerações
Eu escrevi tudo isso porque na maioria das vezes você pode resolver o seu problema de performance, alcançando um desempenho aceitável, simplesmente fazendo um tuning no seu servidor e/ou no seu sistema.
Por outro lado, muitas vezes vemos no CDN um tipo de "salvador da pátria", um jeito mágico, rápido e fácil de ganhar desempenho com pouco esforço e isto não é verdade na maioria dos casos.
Claro que a decisão de criar ou contratar um CDN, ou mesmo decidir não usar nenhum, cabe a cada tipo de sistema e ao uso que é feito dele. Espero que essas informações ajudem a que os leitores possam tomar decisões melhores para cada situação.