A finalidade de um método default
é prover uma implementação padrão para um método de interface no caso das classes que implementam a interface não implementarem o método.
Lembre que uma interface em Java é como um contrato. As classes (exceto a abstratas) que implementam a interface devem implementar todos os métodos da interface como uma obrigação de contrato, caso contrário elas não compilam.
Em teoria, não existe motivo para implementar um método numa interface, mas existem algumas razões práticas, dentre as quais se destacam:
Incluir funcionalidades sem quebrar o código existente
Este é o caso do exemplo citado na pergunta, da interface List
.
Antes dos métodos default
, caso você quisesse adicionar um método comum numa interface você potencialmente quebraria o contrato e todas as classes que implementam ela precisariam ser modificadas.
No caso de List
, considere que é uma das APIs mais usadas e diversas bibliotecas e sistemas possuem implementações próprias delas. Isso seria um impeditivo para migrar para a nova versão do Java até que todas as dependências e componentes fossem também atualizadas.
O principal objetivo dos métodos default
é possibilitar uma evolução de APIs de forma transparente, sem trancos, pois um código "antigo" pode usar uma API mais nova sem precisar ser atualizado.
Isso é vantajoso principalmente quando o novo método agrega alguma funcionalidade, mas não é estritamente necessário para o funcionamento do modo "antigo".
Claro que isso não resolve o problema quando ocorre mudança no funcionamento de uma API, pois nesse caso os métodos existentes precisariam ser modificados e métodos default
não são recomendados.
Num exemplo simples, imagine uma interface de um DAO assim:
public interface ClienteDao {
void incluir(Cliente c);
}
Agora, imagine que esse DAO possui várias implementações por diversos módulos de um grande sistema. Equipes diferentes são responsáveis pelos diferentes módulos que, por sua vez, são colocados em produção em tempos diferentes.
Na versão 2.0 do sistema, você adicionar um novo método na interface, mas não pode esperar que todos os outros módulos sejam atualizados. Você poderia fazer assim:
public interface ClienteDao {
void incluir(Cliente c);
default void incluir(List<Cliente> clientes) {
for (Cliente c : clientes) incluir(c);
}
}
Pronto, agora a API do sistema está atualizada e tudo continua funcionando.
Enquanto as demais equipes não implementam o método novo, a versão padrão serve bem aos propósitos. Provavelmente não é a coisa mais otimizada do mundo, mas funciona.
Para um DAO em memória, provavelmente a implementação padrão é suficiente. Quando uma equipe que implementa o DAO para um determinado banco de dados for atualizar o módulo dela, eles podem implementar uma versão otimizada para incluir os clientes em batch.
Flexibilidade no reuso de código
Reuso de código via herança não costuma ser uma boa prática, mas a realidade é que ter métodos em interfaces possibilita um tipo especial de herança múltipla ou mesmo pode ser considerado um tipo de trait.
No Java 6 você podia reusar métodos de outras classes usando import static
para acessar métodos estáticos como se eles fizessem parte da classe. Mas com os métodos default
do Java 8 você pode implementar uma interface para trazer um conjunto de métodos para sua classe.
A vantagem disso sobre o import static
é que os métodos fazem parte da API da classe e ela pode ser usada polimorficamente.
A vantagem sobre delegar para outras classes é que o código fica mais limpo.
A vantagem sobre herança é que você pode "herdar" os métodos de várias interfaces.
Aliás, a API toda do Java seria diferente se métodos default
existissem há mais tempo.
Um exemplo simples poderia ser um DAO genérico mais flexível, geralmente implementado usando uma classe abstrata. Se você tem alguma experiência com sistemas sabe que sempre existe exceções e nem todos os DAOs precisam ter todos os métodos. Isso ocorre, por exemplo, em entidades que são somente leitura.
Exemplo:
public interface GenericDao<T> {
default Connection getConnection() {
return DbUtils.getConnection();
}
}
public interface ReadOnlyDao<T> extends GenericDao<T> {
T instanciar(ResultSet rs); //específico para cada entidade
default T recuperar(int id) {
Connetion c = getConnetion();
... executa SQL usando alguma mágica ...
return instanciar(rs);
}
default List<T> listarTodos() {
...
}
}
public interface WriteOnlyDao<T> extends GenericDao<T> {
void set(PreparedStatement st, T entidade); //coloca os parâmetros da entidade na query
default void incluir(T entidade) {
Connetion c = getConnetion();
... executa SQL usando alguma mágica ...
}
}
public interface DaoCompleto extends ReadOnlyDao, WriteOnlyDao {}
Com essas implementações, basta implementar as interfaces conforme a necessidade:
public class FeriadosDao implements ReadOnlyDao { ... }
public class LogAcessoDao implements WriteOnlyDao { ... }
public class ClienteDao implements DaoCompleto { ... }
E pronto, podemos incorporar funcionalidades de forma granular, conforme a necessidade.