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Estou mexendo em um código de um framework para meu trabalho. Em uma das funções, ele aloca dinamicamente um std::vector, faz uma cópia de cada nó que o objeto possui e o retorna para o usuário:

std::vector<Node> *Tree::getAllNodes() {
    std::vector<Node> *n, *aux;
    n = new vector<Node>();
    mut.lock();
    for (int i = 0; i < subnodes.size(); ++i) {
        aux = subnodes[i]->GetNodes();
        n->insert(n->end(), aux->begin(), aux->end());
    }
    mut.unlock();
    return n;
}

Ou seja, fica a cargo do usuário liquidar essa memória depois.

Mas, não sei se é realmente necessário alocar essa memória dinamicamente, já que o vector cuida disso para gente, por debaixo dos panos, correto?

Um dos motivos que encontro é que é mais barato retornar apenas o ponteiro do que a cópia do vetor, quando temos muitos dados. Se não o alocássemos dinamicamente, teríamos que retornar uma cópia e, por serem muitos dados, teria maior custo.

Perguntas:

  1. Esse é realmente um caso que deveríamos alocar o vector dinamicamente?
  2. Nos demais casos, quando temos poucos dados e/ou poucas chamadas a essa função, é desnecessário fazer essa alocação dinâmica? Afinal, o gerenciamento de memória fica mais simples.

2 Respostas 2

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Não posso ver nenhuma vantagem real em alocar um std::vector dinamicamente. Mas deve-se ter cuidado ao retornar um vetor como resultado de uma função. Mesmo ele sendo pequeno (tipicamente 12 bytes em sistemas 32-bit) seu construtor de cópia é lento.

  • Se possível, permita que o compilador aplique as otimizações de retorno. Nelas o objeto a ser retornado é construído diretamente na variável de destino dele depois da chamada da função. São duas modalidades possíveis (12.8/31):

    • NRVO (Named Return Value Optimization): Quando você cria uma variável dentro da função cujo tipo é o tipo de retorno da função e em todos os pontos de retorno, você retorna essa variável. Exemplo:

      // Otimização de valor nomeado:
      //  Todos os returns devem retornar a mesma variável local.
      std::vector<int> func_nrvo() {
          std::vector<int> result;
          // execute algo aqui e adicione elementos ao vetor
          return result;
      }
      
      std::vector<int> result = func_nrvo();
      
    • RVO (Return Value Optimization): Quando você retorna um objeto construído no próprio ponto de retorno, ou seja: um temporário (que seja exatamente do tipo da função). Exemplo:

      // Otimização de valor não nomeado:
      //  Todos os returns devem ser um objeto temporário do tipo de retorno.
      std::vector<int> func_rvo() {
          return std::vector<int>(5, 0);
      }
      
      std::vector<int> result = func_rvo();
      
  • Se não for possível aplicar essas otimizações (sugiro reescrever de forma que a função fique como em um desses exemplos), então resta duas opções: mover ou copiar o objeto, sendo a primeira bastante leve e a segunda muito custosa. Infelizmente não existe o conceito de mover no C++03 e se você não pode utilizar o C++11 terá que usar de outros meios para evitar a cópia, como usar um argumento de referência para retornar:

    void func_ref(std::vector<int>& vec) {
        vec.clear();
        vec.push_back(1);
    }
    
    std::vector<int> vec;
    func_ref(vec);
    
  • Se você usa um compilador que suporta o C++11:

    O vetor nesse caso tem um construtor que pode mover o objeto. Então retornar o vetor por uma função é bastante leve e você não precisa se preocupar. Nos casos em que a otimização de retorno de valor não se aplicar, mas se você retornar uma variável local, o resultado será movido automaticamente. Mas você pode forçar a ação de mover usando o std::move se a situação for diferente.

    std::vector<int> func1() {
        return std::vector<int>({1, 2, 3, 4, 5});
    }
    
    std::vector<int> func2() {
        std::vector<int> a, b;
        if (rand() % 2)
            return a;
        else
            return b;
    
        // Otimização não se aplica. Estamos retornando variáveis diferentes.
        // Mas ainda estamos retornando variáveis, mover é implícito.
    }
    
    std::vector<int> func3() {
        std::vector<int> a, b;
        return (rand() % 2) ? std::move(a) ? std::move(b);
        // Otimização não se aplica. Estamos retornando variáveis diferentes.
        // Mas note que não estamos retornando variáveis, e sim uma estrutura
        // mais complexa (a condicional ternária). Nesse caso precisa forçar o move.
    }
    
    std::vector<int> vec1 = func1(); // Resultado construído diretamente em vec1
    std::vector<int> vec2 = func2(); // Resultado movido para vec2
    std::vector<int> vec3 = func3(); // Resultado movido para vec3
    

Nota:

No código da sua função vejo que você usa uma mutex. Repare que a chamada da função insert no vector pode falhar e lançar a exceção std::bad_alloc em caso de falta de memória. Se isso acontecer sua função será encerrada sem liberar a mutex. Um deadlock aguardando para surgir!

O ideal é usar uma classe cujo construtor trave a mutex e o destrutor a destrave, como o std::lock_guard. Assim mesmo no caso de uma exceção a mutex será liberada pois o destrutor das variáveis locais sempre é chamado.

Em caso de dúvida...

As regras que regem exatamente qual tipo de construtor chamar, quando e quais otimizações podem ser feitas em cada caso são bastante complexas e analisar um código se baseando apenas em seus "instintos" pode ser arriscado. Quando defronte a situações como essa uma atitude é confiar em seu compilador para lhe dizer o que está acontecendo. Em vez de um vetor, use uma classe "cobaia" para ver através do código. Exemplo:

struct Cobaia {
    Cobaia() {cout << "  Cobaia()" << endl;}
    ~Cobaia() {cout << "  ~Cobaia()" << endl;}
    Cobaia(const Cobaia&) {cout << "  Cobaia(const Cobaia&)" << endl;}
    Cobaia(Cobaia&&) {cout << "  Cobaia(Cobaia&&)" << endl;} // apenas C++11
};

volatile bool cond = true; // volatile para não otimizar

Cobaia func1() { Cobaia r; return r; }
Cobaia func2() { return Cobaia(); }
Cobaia func3() { Cobaia a, b; if (cond) return a; else return b; }
Cobaia func4() { Cobaia a, b; return cond ? a : b; }
Cobaia func5() { Cobaia a, b; return std::move(cond ? a : b); } // apenas C++11

int main() {
    cout << "func1:" << endl; Cobaia c1 = func1();
    cout << "func2:" << endl; Cobaia c2 = func2();
    cout << "func3:" << endl; Cobaia c3 = func3();
    cout << "func4:" << endl; Cobaia c4 = func4();
    cout << "func5:" << endl; Cobaia c5 = func5(); // apenas C++11
    cout << "fim:" << endl;
}

Aqui o resultado desse programa (compilado com GCC 4.8.1 em modo C++11, comentários meus):

func1:
  Cobaia() // Otimização acontecendo. Tudo acontece como se 'c1' estivesse dentro de func1
func2:
  Cobaia() // Otimização acontecendo. Tudo acontece como se 'c2' estivesse dentro de func2
func3:
  Cobaia() // Construção do local a
  Cobaia() // Construção do local b
  Cobaia(Cobaia&&) // Mover a ou b para c3
  ~Cobaia() // Construção do local b
  ~Cobaia() // Construção do local a
func4:
  Cobaia() // Construção do local a
  Cobaia() // Construção do local b
  Cobaia(const Cobaia&) // Copiar a ou b para c4
  ~Cobaia() // Construção do local b
  ~Cobaia() // Construção do local a
func5:
  Cobaia() // Construção do local a
  Cobaia() // Construção do local b
  Cobaia(Cobaia&&) // Mover a ou b para c5
  ~Cobaia() // Construção do local b
  ~Cobaia() // Construção do local a
fim:
  ~Cobaia() // Destruir c5
  ~Cobaia() // Destruir c4
  ~Cobaia() // Destruir c3
  ~Cobaia() // Destruir c2
  ~Cobaia() // Destruir c1

Observe a diferença entre func3, func4 e func5. É um exemplo claro do quão obscuras essas regras podem ser. Em func3 o retorno é uma variável local, logo possui um endereço fixo de onde os dados podem ser movidos. No caso de func4 a expressão de retorno é um temporário, logo é esperado que seu valor vá ser destruído logo antes de efetivamente retornar da função. Dessa forma o compilador precisa primeiro copiar o resultado para o endereço de retorno antes de continuar. Na func5 uso o std::move para converter a expressão em um Cobaia&& que pode ser movido.

Se você executar o mesmo código em C++03 verá que as últimas realizam cópias já que não existe o conceito de mover um objeto.

Para doses extras de diversão, acrescente a flag -fno-elide-constructors no GCC. Ela desliga todas essas otimizações e você poderá ver todas e cada uma das cópias acontecendo. Um exercício: determinar o motivo de cada uma.

6
  • Muito obrigado pela resposta e pela observação do mutex, Guilherme. Não sabia desse nuance entre C++03 e C++11. Você poderia me fornecer alguma referência para essas otimizações de valor nomeado e não-nomeado? Gostaria de ler um pouco sobre o assunto. Uma vantagem de sempre passar por referência é que fica garantido que teremos o comportamento desejado, para qualquer versão do C++.
    – Yamaneko
    14/12/2013 às 21:00
  • Não encontrei uma boa referencia em português, mas aqui tem uma página da wikipédia inglesa: Return Value Optimization. Eu particularmente não gosto de retornar por um parametro. Faz o uso da função ficar um pouco não intuitivo. 14/12/2013 às 21:11
  • 1
    Isso é verdade. Uma forma de deixar um pouco menos ambíguo é usar a sintaxe do Google C++ Style Guide. Parâmetros de entrada são const T& input e parâmetros de saída são T* output. Talvez se também usar algum prefixo.
    – Yamaneko
    14/12/2013 às 21:48
  • 2
    Uma pequena dica: independente da forma utilizada para retornar / gerar o vetor, como ele sabe de antemão quantos elementos vai precisar, é vantajoso invocar o reserve do vetor para evitar múltiplas alocações durante os pushs.
    – bcsanches
    20/12/2013 às 0:56
  • 1
    @Math não me pergunte como isso paçou. Mas sim, aproveitei para reestruturar uma parte. Obrigado! 9/10/2014 às 12:26
2

Em certos casos poderá ser vantajoso/necessário criar o vector dinamicamente:

Situação 1: Tens um processo multithreaded e tens uma heap propria para cada thread (por motivos de performance), neste caso crias o vector na respectiva heap da thread.

Situação 2: Utilizas um custom allocator, se este não for static não tens possibilidade de declarar algo do tipo:

vector<unsigned int, my_allocator<unsigned int>> vVector;

porque o teu my_allocator ainda não "existe" e ao declarares o vector ele automaticamente necessita de um allocator, para fazer a sua inicialização.

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