Resposta direta
A razão pela qual as pessoas dizem para evitar o goto
é a legibilidade. Seria para facilitar o entendimento do código, para o programador não se perder no que o código faz. O goto
em si não causa problema algum.
O goto
ainda existe porque ele ainda é útil. Ele existe porque a maioria dos criadores de linguagens são pragmáticos.
De onde veio o mito?
Basicamente, o "culpado" é o artigo "go to statement considered harmful" do Edsger W. Dijkstra. Mais precisamente do seu editor, que escolheu um título muito chamativo. Depois todas as pessoas que falam do que não sabem perpetuaram o mito.
Claro que o artigo mostra uma situação em que o goto
não precisa ser usado. Mas ele não diz que o goto
não deveria existir. Na verdade o artigo apenas tenta vender a ideia da programação estruturada.
No passado os programas eram entendidos muito pelo seu fluxo, sejam eles em Assembly, sejam nas primeiras linguagens de alto nível. A programação estruturada e modularizada surgiu pouco depois para revolucionar a programação mais um vez. Desta forma os programas seriam entendidos pela sua estrutura e não pelo seu fluxo. Realmente isso ficou comprovado como um enorme facilitador para o entendimento dos programas, que eram cada vez maiores.
Como o telefone sem fio costuma ser a brincadeira preferida das pessoas elas passaram a repetir que o goto
fritava seu cérebro ou fazia o computador soltar bolhinhas.
O que é um GoTo?
Pela maneira como as pessoas falam parece que a palavra/expressão goto
é que é o problema. Um break
ou continue
podem ser considerados goto
? E um break label
? Um return
? E o que dirá do throw
?
O throw
parece ser um dos comandos mais queridos dos programadores hoje em dia na maioria das linguagens. E ele pode ser considerado o pior tipo de goto
. É difícil criar uma estrutura de controle tão pouco previsível quanto o throw
, mas não vejo as pessoas falarem mal dela. De fato o tratamento de exceções parece ser um dos recursos mais abusados na programação neste século. Tudo bem que o abuso ocorre mais por causa do catch
onde não se pode fazer nada útil, mas o catch
é apenas o label do desvio causado pelo goto
. Eu falo disso em vários posts mas parece que as pessoas que mais precisam ler essas coisas só têm tempo para postar seus probleminhas de código. Veja É uma boa prática lançar exceção nesses casos?, melhor maneira de lidar com exceções e exceção.
Apesar de eu achar radicalismo que busca problemas ao invés de soluções, acho mais coerente quem acha que qualquer forma de goto
é ruim. Preconceito com a palavra é que não dá para aceitar.
É claro que algumas implementações de goto
, principalmente as mais antigas, podem não ser as ideais, deixa você fazer alguma maluquice que não ajuda ninguém. Mas é claro que não é problema do conceito, e sim da implementação.
Ele não deveria existir?
while x < 10
print x
x++
end
É o mesmo que
while: if x >= 10 goto end
print x
x++
goto while
end:
Claro que a primeira forma reduz um pouco o tamanho do código por ter um syntax sugar. Mas é mais difícil acompanhar o segundo exemplo do que o primeiro?
O goto
por si só não causa problema nem mesmo de legibilidade. O mal uso dele é que pode causar dificuldades para dar manutenção no programa.
Pode parecer que estou defendendo o uso do goto
. Longe disto, você deve tentar evitar ao máximo o seu uso, mas não à qualquer custo. A programação baseada em goto
certamente é bem problemática, mas o uso parcimonioso do recurso por quem entende o seu funcionamento e conhece as dificuldades que ele pode impor ao seu programa não é problemático.
É irônico ver os defensores da legibilidade proporem códigos ilegíveis só para atender a "regra" que um goto
não deve ser usado. Há quem ache que flags são melhores que usar um goto
. Pode até ser em algum caso, mas não para tudo. Guardar e controlar estado de uma variável para evitar o goto
é caso típico de aumentar a complexidade em nome da regra.
Há casos que o goto
facilita a legibilidade, os principais já foram demonstrados nas outras respostas. Um caso bem útil é evitar o uso de múltiplos pontos de saída (return
) como demostrado em uma resposta minha.
Aprendi programar usando uma linguagem que basicamente só tinha goto
. Usei por muitos anos uma linguagem que o mais perto do goto
era apenas o break
e continue
. Hoje uso linguagens que não incentivam seu uso, mas permitem usar de forma limitada. Este é o ponto. Nem me lembro quando foi a última vez que usei o famigerado, mas gosto de saber que posso usá-lo quando precisar.
Odeio linguagens que querem proteger o programador não permitindo fazer o que pode ser útil. Você apenas força a utilização de estruturas mais complexas que serão bem feitas, na medida do possível, pelos bons programadores, e serão muito mal feitas pelos outros programadores. A ausência de goto
na linguagem limita os bons programadores e não resolve nenhum problema real.
- Linguagens que não possuem
goto
complicam a vida de quem precisa criar geradores de código para estas linguagens alvo.
- Não ter
goto
promove construções complicadas não padronizadas, especialmente na criação de máquinas de estado.
- Pode reduzir a facilidade para otimizações realmente necessárias em códigos que precisam arrancar o máximo da performance.
- A falta do
goto
aumenta a complexidade ciclomática em muitos casos.
É uma pena que uma linguagem como o JavaScript, que é tão usada como target de outras, não tenha um goto
nativo.
Algumas linguagens limitam ou podem limitar, acertadamente, o que o goto
pode fazer:
- certamente o
goto
não deveria pular partes importantes do código;
- não deveria poder entrar dentro de um escopo forçadamente;
- algumas pessoas acham que não deveria permitir voltar o fluxo para traz.
O goto
pode ser usado de uma forma estruturada. Donald Knuth sabe bem disto. Quem sou eu para contestá-lo. Não é o uso do goto
que se opõe à programação estruturada. O abuso dele sim.
Outro que dá boas dicas de como usar o goto
adequadamente é o Stece McConnel no Code Complete.
Talvez a explicação mais completa, não necessariamente a melhor, sobre o assunto esteja nesse artigo.
Ninguém é obrigado a concordar com tudo o que eu ou essas pessoas escreveram. Eu não concordo com tudo. Mas existem fatos e boas observações.
Evitar o goto
pode ser tão danoso quanto usá-lo. Em geral um goto
vale mais do que violar o DRY.
De qual linguagem estamos falando?
O AP cita a linguagem C. Esta é uma linguagem que precisa muito do goto
para fazer limpeza de recursos, liberação de memória, encerramento de operações. Alguém pode reclamar que isso é um problema da linguagem. Mas ele não deixa de ser útil e é isso que importa.
Existem linguagens que não possuíam nenhuma forma de goto
e depois passaram ter. Porque viram utilidade.
Cada linguagem tem uma necessidade. Algumas precisam mais que outras, mas todas podem se beneficiar dele em maior ou menor grau.
Sem saber de qual linguagem estamos falando, só podemos dizer que o goto
é útil sim. Conhecendo a linguagem, podemos dizer com mais precisão onde ele é útil.
Não vou falar de linguagens já faladas em outras respostas, e obviamente não falarei de linguagens que não domino.
Usos legítimos no C#
De acordo com a referência da Microsoft para o comando, alguns usos legítimos são:
class SwitchTest {
static void Main() {
Console.WriteLine("Coffee sizes: 1=Small 2=Medium 3=Large");
Console.Write("Please enter your selection: ");
string s = Console.ReadLine();
int n = int.Parse(s);
int cost = 0;
switch (n) {
case 1:
cost += 25;
break;
case 2:
cost += 25;
goto case 1;
case 3:
cost += 50;
goto case 1;
default:
Console.WriteLine("Invalid selection.");
break;
}
if (cost != 0) Console.WriteLine("Please insert {0} cents.", cost);
Console.ReadKey();
}
}
Um caso comum em C# é colocar o goto case <próximo caso>
. Ele é uma forma de fall through, já que o C# não possui esse recurso automático, ou seja, um bloco case
precisa terminar com break
ou goto
. Algumas pessoas acham que o C# deveria ter o fall through automático para reduzir um tamanho do código. Outras dizem que isto causa bugs.
Outra forma:
public class GotoTest1 {
static void Main() {
int x = 200, y = 4;
int count = 0;
string[,] array = new string[x, y];
for (int i = 0; i < x; i++)
for (int j = 0; j < y; j++)
array[i, j] = (++count).ToString();
Console.Write("Enter the number to search for: ");
string myNumber = Console.ReadLine();
for (int i = 0; i < x; i++) {
for (int j = 0; j < y; j++) {
if (array[i, j].Equals(myNumber)) goto Found;
}
}
Console.WriteLine("The number {0} was not found.", myNumber);
goto Finish;
Found:
Console.WriteLine("The number {0} is found.", myNumber);
Finish:
Console.WriteLine("End of search.");
Console.WriteLine("Press any key to exit.");
Console.ReadKey();
}
}
Em algumas linguagens que não possuem a palavra reservada goto
isso pode ser obtido por break label
. Mas só porque não tem a palavra goto
ele deixa de ser problema? Saltar mais de um nível de um loop aninhado é algo que o comando ajuda. As tentativas de evitá-lo, em geral, levam a um código pior.
É provável que a linguagem seria menos criticada se criasse um break label
para resolver esses dois casos. Isso mostra que o ódio ao recurso é irracional. De qualquer forma, outras formas ainda seriam proibidas e é uma limitação indesejável.
Uma limitação desejável e existente na linguagem é a proibição do label estar em um escopo mais interno que do goto
ou em outro escopo. Não há como entrar dentro de um loop através do goto
, por exemplo. Sair dele não é problema, porque é o goto
que está mais interno, e não o label. Isto não é possível:
var a = 1;
var s = "";
if (a == 1) {
s = "1";
goto label1;
} else if (a >= 2) {
s = "2";
goto label1;
} else {
label1:
s += "3";
}
Obviamente sair de um método com goto
não é permitido.
Um label não pode ser um último statement (sim, o label é um statement) de um método. Precisa ter algo depois dele mesmo que seja apenas um return
ou um statement vazio (;
).
Dentro de um finally
não pode existir um goto
.
O finally
será executado mesmo que um goto
tente evitá-lo. O finally
tem prioridade e o * label* de um goto
só receberá o fluxo do programa quando todos os finally
s envolvidos forem executados.
try {
...
goto label1;
} finally {
CloseAll();
}
label1:
FazAlgo();
Neste caso o CloseAll()
será executado antes do FazAlgo()
indubitavelmente.
Um exemplo achado no Code Review em que a resposta aceita é pior que a que usa goto
:
string errorMessage;
while(!TryTableFill(myDataTable, out errorMessage)) {
DialogResult result = MessageBox.Show("Can't load data:\n" + errorMessage, "Error", MessageBoxButtons.RetryCancel, MessageBoxIcon.Error);
if(result != DialogResult.Retry)
break;
}
private boolean TryTableFill(myDataTable, out string errorMessage) {
errorMessage = string.Empty;
try {
oleDbDataAdapter1.Fill(myDataTable);
return true;
} catch (Exception ex) {
errorMessage = ex.Message;
return false;
}
}
Aparentemente (não pra mim) é melhor que:
start:
try {
oleDbDataAdapter1.Fill(myDataTable);
} catch (Exception ex) {
DialogResult res = MessageBox.Show("Can't load data:\n" + ex.Message, "Error",
MessageBoxButtons.RetryCancel, MessageBoxIcon.Error);
if (res == DialogResult.Retry)
goto start;
}
Jura que evitar o goto
no código abaixo deixou o código mais legível?
var tryAgain = true;
while (tryAgain) {
try {
...
tryAgain = false;
} catch (...) {
tryAgain = true
}
}
Com goto
:
tryAgain:
try {
...
} catch (...) {
goto tryAgain;
}
Já vi casos em que o programador colocou um loop e pelo menos 2 desvios incondicionais (qualquer combinação de break
e continue
) para evitar um simples, inocente e legível goto
.
Exemplo de mal uso
var retVal = false;
if(cond1)
goto exit;
if(cond2)
goto exit;
if(cond3)
goto exit;
retVal = true;
exit:
return retVal;
Pode ser substituído por:
return !(cond1 || cond2 || cond3);
Procure usar o goto
para expressar sua intenção e não como um mecanismo. Neste caso a intenção não precisava de goto
e nem de uma estrutura complexa. O problema aqui nem é o goto
. Veja a versão dele sem o uso do comando do capeta e que continua ruim:
if(cond1)
return true;
if(cond2)
return true;
if(cond3)
return true;
return false;
Conclusão
Programadores ruins vão produzir códigos ruins, não importa se usa goto
ou não. É lamentável ver casos de goto
onde existe uma construção melhor. Mas é pior ainda ver código ruim porque uma regra cega foi usada.
O goto
pode ser útil para:
- Tornar o código mais fácil de ler.
- Reduzir o tamanho do código.
- Evitar repetição de código.
- Facilitar código gerado automaticamente.
- Sair de loops aninhados.
- Manipular máquinas de estado.
- Garantir uma saída limpa de uma rotina.
Dieta manda você comer menos e com mais qualidade para cuidar da sua saúde, não manda você não comer. Cuide de sua saúde e use um pouquinho, bem pouquinho de goto
, sempre que ele beneficiar mais do que atrapalhar.
Coloquei no GitHub para referência futura.
Mais um exemplo em pergunta aqui.
COMEFROM
.