- Primeiro, gostaria de informar que o que estou para lhe repassar é somente a minha opinião, não tenho grandes referências para apontar aqui.
- Segundo, eu irei escrever os exemplos na linguagem C#, conheço PHP, mas prefiro não cometer gafes. Mas o importante é a ideia, estou bem ciente que o que vou lhe mostrar aqui você terá como simular com o PHP, que tem recursos para suprir a ideia apresentada.
Antes de se perguntar o porquê, temos que entender qual o propósito de uma interface
Muitas linguagens de programação possuem um suporte para POO (Programação Orientada a Objetos), que é uma das maneiras de se programar usando o paradigma imperativo, que possui uma ótima abstração para iniciantes aprender a programar. E o POO possui quatro pilares que devem ser respeitados para que a linguagem seja considerada como uma orientada a objetos:
- Abstração (eu pessoalmente acho que isso não é um pilar, mas sim uma base)
- Encapsulamento
- Herança
- Polimorfismo
O propósito das interfaces é justamente uma maneira de suprir a necessidade de um desses pilares, o polimorfismo. E o que é polimorfismo? Polimorfismo é a capacidade de algo assumir diferentes formas. Isso é muito importante para a criação de sistemas complexos, a habilidade de trocar mensagens entre os objetos de uma maneira que os comunicantes consigam conversar com o maior número de objetos diferentes nos ajuda a reaproveitar o maior número de código possível. O uso de polimorfismo nos permite um baixo grau de acoplamento e alto grau de modularização. Segue um exemplo:
public class Gmail
{
public void Enviar() { /* envia um e-mail */ }
}
public class GerenciadorDeTarefas
{
public void Finalizar(Tarefa tarefa)
{
tarefa.Status == EStatus.Concluido;
this.Notificar();
}
private void Notificar()
{
new Gmail().Enviar();
}
}
Aqui temos uma classe que é responsável por nos Notificar quando alguma Tarefa for concluída. Como uma notificação pode ser feita de diversas maneiras (SMS, Email, Tweets, Posts no Facebook, etc), nós encapsulamos o comportamento em um método privado Notificar. Atualmente o sistema trabalha somente com o envio de emails pelo gmail, mas se precisamos dar suporte para mais servidores? Aqui temos um problema, porque a classe GerenciadorDeTarefas está fortemente acoplada a classe Gmail, isso é, porque a classe Gmail possui um baixo grau de polimorfismo. Para resolver o problema, podemos fazer:
public interface IEmail
{
void Enviar();
}
public class Gmail : IEmail { /* implementação */ }
public class GerenciadorDeTarefas
{
private IEmail email;
public GerenciadorDeTarefas(IEmail email)
{
this.email = email;
}
public void Finalizar(Tarefa tarefa) { /* implementação */ }
private void Notificar()
{
this.email.Enviar();
}
}
Dessa maneira nossa classe GerenciadorDeTarefas não possui mais a responsabilidade de conhecer para qual tipo de email será enviado as notificações. Agora ele sabe que somente conversa com um IEmail, não especificamente com o Gmail. Agora se eu quiser mandar emails com o Yahoo, Hotmail e etc, basta implementar a interface de IEmail e passar a classe que eu desejo usar no momento da construção do GerenciadorDeTarefas.
Note que eu tenho que remover as implementações concretas da minha classe de GerenciadorDeTarefas para que o desaclopamento seja real, aqui eu removi seguindo um dos princípios do SOLID, o Dependency Inversion Principle (Princípio da Inversão de Controle), aplicando a técnica de Constructor Injection, existem várias outras técnicas, mas a mais simples é essa.
Okay, entendi. Mas o que isso tem haver com a minha pergunta?
Note que para resolver o problema do uso do polimorfismo do Gmail eu precisei remover a chamada do construtor Gmail da classe GerenciadorDeTarefas? O GerenciadorDeTarefas não precisa em nenhum momento construir o atributo email, e nem deveria, isso não é uma responsabilidade mais da classe. Não adianta haver um atributo com alto grau de polimorfismo se eu precisar gerenciar na própria classe qual é o tipo concreto que ele vai usar. Eu já vi pessoas usando estratégias com enums/strings para resolver o problema, o que na verdade, não resolve o problema do acoplamento. Aqui está um exemplo de uma péssima "utilização" do polimorfismo:
public class GerenciadorDeTarefas()
{
private IEmail email;
public GerenciadorDeTarefas(ETipoEmail tipoDeEmail)
{
switch (tipoDeEmail)
{
case ETipoEmail.Gmail:
this.email = new Gmail();
break;
case ETipoEmail.Yahoo:
this.email = new Yahoo();
break;
}
}
}
Por que isso é ruim? Porque toda vez que você implementar uma nova classe você precisará colocar ela dentro desse construtor. Agora se o seu código for uma biblioteca para terceiros, uma DLL, se o desenvolvedor que consome essa biblioteca precisar colocar um novo tipo de email, como ele fará isso? Ele não pode modificar o seu código, é uma DLL, ou seja, já era. NOTA: Tem maneiras de transformar uma DLL de volta no código original, mas isso é completamente inviável de se pedir para um desenvolvedor fazer para extender a sua biblioteca.
Agora se você realmente quer setar o tipo concreto na classe de uma maneira mais inteligente, uma abordagem no estilo abaixo seria mais interessante (nesse caso é completamente desnecessário usar herança para algo tão simples, eu acho que usar a técnica de Constructor Injection é mais simples e útil, mas está aí para conhecimento):
public abstract class GerenciadorDeTarefas
{
protected IEmail email;
public void Finalizar(Tarefa tarefa) { /* implementação */ }
private void Notificar()
{
this.email.Enviar();
}
}
public sealed class GerenciadorDeTarefasGmail : GerenciadorDeTarefas
{
public GerenciadorDeTarefasGmail()
{
this.email = new Gmail();
}
}
public sealed class GerenciadorDeTarefasYahoo : GerenciadorDeTarefas
{
public GerenciadorDeTarefasYahoo()
{
this.email = new Yahoo();
}
}
Dessa maneira quem consumir sua biblioteca pode extender a classe abstrata e setar o tipo concreto que ele quiser. Mas novamente, volto a dizer, nesse caso eu não acho viável fazer isso.
Agora chega o momento da primeira etapa da resposta: faz sentido definir um construtor na interface? Ele não ajuda em nada no polimorfismo, que é o propósito de uma interface. Então nesses cenários eu vejo que ele é completamente inútil.
Existe um cenário eu vejo sentido usar (GENERICS):
Generics é o único caso que eu consigo pensar onde definir um construtor em uma interface seria um benefício para a questão do polimorfismo. Note que C# não possui suporte para isso, então será uma implementação somente teórica:
public interface IEmail
{
IEmail(string message); /* __construct */
void Enviar();
}
public class GerenciadorDeTarefas<TEmail>
where TEmail : IEmail // Informa que o tipo genérico deve implementar IEmail
{
public void Finalizar(Tarefa tarefa) { /* implementação */ }
private void Notificar()
{
new TEmail("Tarefa concluída!").Enviar();
}
}
Eu não vejo grandes problemas em um código desses. Alto grau de polimorfismo, fácil entendimento e definições de comportamento na interface. Claro, você está limitando a maneira que o email é criado, mas existe alguns cenários que isso é bem útil. A utilização também é bem prática, veja:
var gerenciadorDeTarefasComGmail = new GerenciadorDeTarefas<Gmail>();
gerenciadorDeTarefasComGmail.Finalizar(new Tarefa());
var gerenciadorDeTarefasComYahoo = new GerenciadorDeTarefas<Yahoo>();
gerenciadorDeTarefasComYahoo.Finalizar(new Tarefa());